Introdução alimentar: o que você precisa saber

A alimentação é parte da nossa existência desde o nosso primeiro dia de vida até o último. Comer vai muito além de uma necessidade fisiológica e é uma atividade também considerada cultural por muitos especialistas. Há maneiras até mesmo religiosas, além das nutricionais e socioeconômicas, de se abordar o tema.

Mas, então, quando é que começamos a realizar essa prática da forma como conhecemos, ou seja, por meio dos alimentos sólidos? A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica o aleitamento materno até os dois anos de idade ou mais e que ele seja exclusivo durante os primeiros seis meses de vida. Mas a partir do momento em que o bebê já apresenta condições físicas como se manter firme sentado ou ter a capacidade de segurar uma colher, então é a hora da introdução alimentar para comidas sólidas.

Karine Nunes Costa Durães, nutricionista materno-infantil e autora do livro Comendo Feliz (Editora Matrescência, 2021), explica que “o ideal é começar quando a criança está preparada para começar, que é quando ela se senta, consegue ser ativa no processo da alimentação, por exemplo, agarrando a colherzinha e puxando para própria boca. Isso costuma acontecer por volta de seis meses de idade”.

E se alimentar é um movimento tão importante e único que, em um projeto desenvolvido com o auxílio de Karine, dentro de uma tribo indígena localizada em São Paulo, ela pôde perceber, mais uma vez, o que já sabia: a criança fala à sua maneira. Quando entrevistadas, as mães daquele local não sabiam indicar quando começaram a introduzir alimentos sólidos, mas, em conversas individuais, alegavam a mesma coisa: o alimento entrou quando o próprio bebê passou a apontar para as comidas, indicar que queria, e isso se deu em diferentes idades — alguns com cinco meses, outros com até oito.

Para ela, ao falar sobre introdução alimentar, é preciso começar pelos três principais objetivos: manter esse bebê bem nutrido, oferecer a oportunidade de ele aprender a comer (“porque a gente não nasce aprendendo, é uma atividade aprendida”, explica) e que essa alimentação já possa influenciar positivamente sua saúde não só agora, mas também no longo prazo.

Segundo Karine, não é preciso se prender a uma ordem específica de alimentos, mas estar atento à qualidade deles. “Os alimentos a serem preferidos são todos os que a gente considera natural, comida de verdade: fruta, vegetal, carnes. Então, se a família for almoçar, jantar, comer fruta, pode dividir esses alimentos com o bebê, não precisa necessariamente começar com frutas ou com legumes, isso não vai fazer diferença para a qualidade da introdução alimentar desse bebê”, explica.

Ela ainda lembra que, no caso de alimentos que demandam cocção, é preciso que ele esteja bem cozido, e, se for uma fruta, ela precisa ser macia e suculenta o suficiente para atender à capacidade que o bebê tem, naquele momento, de comer. E a quantidade, tema tão polêmico e motivo de tantas dúvidas maternas, varia de criança para criança.

“Uma dúvida muito importante que algumas mães e alguns pais têm é: quanto de comida esse bebê precisa comer? E essa é uma resposta bem simples de dar: se a gente está falando de um bebê saudável, ele acaba escolhendo a quantidade, esse é o ideal. Quando a gente acredita nesse mito de que existe quantidade exata, a gente vai interferir no processo de aprendizagem da criança, porque nem sempre ela vai querer comer exatamente a mesma quantidade que consideramos ideal. A verdade é que a criança é capaz de fazer essa autorregulação”, diz.

Segundo Karine, esse é um momento único tanto na vida da criança quanto na das mães e dos pais. “Pense em uma janela de oportunidades. Se você colocar um brócolis diante de uma criança de cinco anos, ela nem vai olhar se ela não gostar. Agora, se fizer o mesmo com um bebê de nove meses, ele vai ao menos se relacionar com o legume. Então, dos seis meses até os dois anos de idade — época em que se dá a introdução — a criança estará aberta aos estímulos alimentares, e se a gente perde essa janela, a chance de ela desenvolver problemas alimentares depois é muito maior”, explica.

Pediatra X nutricionista

Por ser um período tão importante e que demanda um maior investimento de atenção e cuidado, os pais e as mães podem ter muitas dúvidas. Esse foi o caso da jornalista Lígia Paloni, autora do livro Alimentação ParticipATIVA — os segredos que quero te contar (Independente, 2018). Quando o primeiro filho de Lígia completou 4 meses, a pediatra que o acompanhava até então sugeriu o início da introdução alimentar. Mas, em suas pesquisas prévias, a mãe recordava de ter sempre visto que a orientação era “a partir dos 6 meses”. Movida por sua intuição e seu conhecimento, decidiu procurar uma nova pediatra. Dois meses depois, aos seis meses, seu filho Martin começou a desbravar o mundo dos alimentos.

“Mesmo mudando de pediatra, eu ainda sentia falta de um pouco mais de troca de informações, queria tirar mais dúvidas e achava que, com a pediatra, era uma coisa mais médica, aquela questão de olhar de forma mais generalista. Aí, senti a necessidade de ir atrás de uma nutricionista”, conta Lígia.

Foi nesse momento que os caminhos de Lígia e Karine se encontraram. “A diferença entre uma nutricionista e um pediatra nessa fase é que o pediatra é um médico da criança, que vai ajudar prevenindo problemas principalmente de saúde. Então, sua recomendação alimentar vai ser básica e, muitas vezes, isso pode ser suficiente. Mas, em outros casos, pode ser insuficiente ou desatualizada, devido à grande gama de assuntos sobre os quais ele trata”, explica Karine.

O aprofundamento, que tantas mães e tantos pais buscam, pode ser encontrado em uma consulta nutricional, que tende, inclusive, a ser mais longa. É por lá que possíveis problemas podem ser identificados, como a seletividade ou os encaixes na rotina familiar. “O olhar de um profissional especializado vai conseguir ajudar a resolver aquele problema de uma maneira mais assertiva, por causa da experiência e dos saberes conduzidos. O pediatra também acaba questionando um pouco mais sobre hábitos, rotinas e horários — isso tudo faz diferença”, pontua.

Era justamente essa fonte de informação segura que Lígia buscava. Aliada às suas constantes pesquisas, conversas com rede de apoio e o gosto prévio pela cozinha, ela conseguiu atravessar essa jornada pensando em receitas lúdicas, que brincassem com os sentidos da criança sem deixar de lado as necessidades nutricionais de seu filho.

“Quando comecei a ficar mais tranquila em relação à alimentação, a entender realmente que era uma fase de introdução alimentar, então seria um momento em que ele iria conhecer os alimentos e não necessariamente iria comer os alimentos, eu fiquei mais segura. Então foi muito gostoso, eu via como ele englobava todos os sentidos da alimentação, cheirava, tocava” relembra Lígia.

Alimentação participativa

O caminho seguido por Lígia e guiado por Karine, de forma quase instintiva, foi a introdução alimentar participativa, que significa o seu filho participando de forma ativa de sua própria alimentação. E como se dá essa prática? “Tanto na elaboração dos pratos, quanto no comer junto com os pais, comendo a mesma comida, mostrando para a criança que aquele momento em volta da mesa é também cultural e de comunicação familiar”, explica a jornalista.

E isso virou um hábito em sua família, que até hoje almoça e janta, em um momento em que não só há conversa, como também divisão de tarefas: colocam a mesa juntos e decidem também qual será o cardápio. “Não tem aquela imposição do ‘ah, hoje tem isso’. Aqui, a gente sempre foi muito aberto em relação à alimentação e à comida de modo geral. Então, não existe nenhuma neurose, se hoje é dia de pizza, hoje é dia de pizza, e vai todo mundo comer a mesma coisa, e amanhã a gente vai voltar a ter equilíbrio”.

Evidentemente, não há como deixar a logística do cardápio totalmente na mão dos pequenos — até mesmo para evitar que peçam fast food com muita frequência. Mas envolvê-los no processo de escolha, convidá-los a fazer parte, contribui para criar indivíduos com maior autonomia e com escolhas futuras mais saudáveis e conscientes.

O processo foi tão marcante para Lígia que ela decidiu escrever um livro e dividir seu conhecimento com outras pessoas. A escolha pelo formato físico é justamente para incentivar que essas mães e esses pais se reconectem à moda antiga — estarem ali folheando as receitas em seu lar, decidindo juntos o que irão fazer naquele dia.

Tanto para Karine quanto para Lígia, não há uma dica de ouro para encarar essa jornada tão única e desafiadora. Ambas concordam que a palavra-chave deve ser paciência. Controlar suas próprias expectativas também é um caminho importante para evitar frustrações. Carinho, compreensão, criatividade e persistência, tudo isso será importante para você que está começando a ensinar para seu filho ou sua filha essa atividade deliciosa que irá acompanhá-los para o resto da vida: alimentar-se.

* As especialistas consultadas sobre esta matéria foram ouvidas como fontes jornalísticas, não se utilizando do espaço para a promoção de qualquer produto ou marca.

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